Olha aquele céu estranho. Escuro. O céu enegrecido roubou-lhe a luz com que ainda lia. Num repente. Um quase nada mais que um instante.
Um escuro que a fizera deslizar de dentro. Sair para a varanda. Deixar aberto o livro numa página, descaído na cadeira, sabe lá ela se fechado e nem sabia qual a página. Trinta e oito? Indaga-se olhando da varanda.
Está tão sozinha. Sente frio. Não sabe se é de medo.
Ninguém assoma. Ninguém para ver o que lhe parece um vapor deslizando, denso, num negro de céu, em todo o derredor que ela olha. Um vapor laranja.
Ninguém da casa que fica um pouco para lá do muro do jardim, ainda debaixo da copa da araucária.
Inebria-se. Não percebe. Um céu dantesco que ela olha. Não é receio que sente. É mais uma incerteza, quase tomando a forma de desejo.
Acaricia de cada mão contrária um cotovelo, assim a modos de se fazer um enlaço e dizer: arrefeceu. Desagasalha-a a túnica de linho com bordados nas mangas. Escorregou-lhe, decerto, no chão da sala, o casaquinho de algodão que tinha sobre as costas. Caíra-lhe na pressa de vir cá fora, de entender o que enegrecera a luz de fim de dia. Lhe toldara as letras com que lia.
Caminha um passo, em arrecuas. Um passo lento, assim parecendo que nem achava se devia sair de ali ou se ficar.
Ensurdece do estrondo.
O grito.
O embate.
O ar que se faz quente.
Encandeia-se da luz. O céu embranqueceu e fez mais verde o que era limo de chão não batido de sol. O canto da varanda. Uma prega na casa.
Quieta ela.
Hirta como no jogo, ela pequena, em casa dos avós.
Vamos jogar à estátua. Assim dizia o primo.
Nem nos rimos, nem nos mexemos. Ordenava-lhe ele.
Nem podes mexer as pestanas, senão perdes. Gritava-lhe o Silvestre. Morreu cedo. Num Verão, não veio. Tinha, como ela, treze anos feitos por Janeiro. Angina de peito. Foi a mãe quem disse.
Ela sempre perdia. Mexia-se demais, no jogo. Ele muito quieto. Muito morto.
Seria vencedora aquela noite, as mãos abraçando as mangas bordadas da veste, os olhos tão abertos, nem pestanejavam, quedos naquele não perceberem. Mais do que receio. E não era medo. Parecia um querer muito forte que ela não entende. E nem tem o tempo. Estátua, ela, no recanto onde cresceu o musgo. Uma dobra da casa.
Desiluminara-se, ainda há um nada, o ar da sala.
E nem era o momento de o sol se esconder e tanto se alaranjara o firmamento.
Não sabe como sentir. Nem se ficar ou se fugir. Nem sabe ela de que fugiria.
Um momento grande o que lhe acontece.
Um escuro que a fizera deslizar de dentro. Sair para a varanda. Deixar aberto o livro numa página, descaído na cadeira, sabe lá ela se fechado e nem sabia qual a página. Trinta e oito? Indaga-se olhando da varanda.
Está tão sozinha. Sente frio. Não sabe se é de medo.
Ninguém assoma. Ninguém para ver o que lhe parece um vapor deslizando, denso, num negro de céu, em todo o derredor que ela olha. Um vapor laranja.
Ninguém da casa que fica um pouco para lá do muro do jardim, ainda debaixo da copa da araucária.
Inebria-se. Não percebe. Um céu dantesco que ela olha. Não é receio que sente. É mais uma incerteza, quase tomando a forma de desejo.
Acaricia de cada mão contrária um cotovelo, assim a modos de se fazer um enlaço e dizer: arrefeceu. Desagasalha-a a túnica de linho com bordados nas mangas. Escorregou-lhe, decerto, no chão da sala, o casaquinho de algodão que tinha sobre as costas. Caíra-lhe na pressa de vir cá fora, de entender o que enegrecera a luz de fim de dia. Lhe toldara as letras com que lia.
Caminha um passo, em arrecuas. Um passo lento, assim parecendo que nem achava se devia sair de ali ou se ficar.
Ensurdece do estrondo.
O grito.
O embate.
O ar que se faz quente.
Encandeia-se da luz. O céu embranqueceu e fez mais verde o que era limo de chão não batido de sol. O canto da varanda. Uma prega na casa.
Quieta ela.
Hirta como no jogo, ela pequena, em casa dos avós.
Vamos jogar à estátua. Assim dizia o primo.
Nem nos rimos, nem nos mexemos. Ordenava-lhe ele.
Nem podes mexer as pestanas, senão perdes. Gritava-lhe o Silvestre. Morreu cedo. Num Verão, não veio. Tinha, como ela, treze anos feitos por Janeiro. Angina de peito. Foi a mãe quem disse.
Ela sempre perdia. Mexia-se demais, no jogo. Ele muito quieto. Muito morto.
Seria vencedora aquela noite, as mãos abraçando as mangas bordadas da veste, os olhos tão abertos, nem pestanejavam, quedos naquele não perceberem. Mais do que receio. E não era medo. Parecia um querer muito forte que ela não entende. E nem tem o tempo. Estátua, ela, no recanto onde cresceu o musgo. Uma dobra da casa.
Desiluminara-se, ainda há um nada, o ar da sala.
E nem era o momento de o sol se esconder e tanto se alaranjara o firmamento.
Não sabe como sentir. Nem se ficar ou se fugir. Nem sabe ela de que fugiria.
Um momento grande o que lhe acontece.
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